segunda-feira, 27 de junho de 2016

Lembrança de Morrer - Álvares de Azevedo

     O poeta brasileiro Álvares de Azevedo (1831-1852), conhecido como o noivo da morte, pertenceu à fase Ultrarromântica do Romantismo. Teve inspiração, dentre outros, no grande poeta britânico Lord Byron.

     Por ter perecido tão cedo em função de uma tuberculose, não tivera tempo de concluir seu curso de Direito e nem de amadurecer poeticamente, como apontam alguns críticos literários. 

     Embora tenha muitos poemas com temática mórbidas, Álvares de Azevedo, como bom poeta do romantismo, também sofrera de amor platônico, o que fora retratado em seus poemas. Sua obra de maior expressão foi Lira dos 20 Anos (Antologia Poética, 1853), da qual foi extraído o poema a seguir:


 LEMBRANÇA DE MORRER


Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro,
... Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade... é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade... é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!

De meu pai... de meus únicos amigos,
Pouco - bem poucos... e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida.

Sombras do vale, noites da montanha
Que minha alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe canto!

Mas quando preludia ave d’aurora
E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri os ramos...
Deixai a lua pratear-me a lousa!

sábado, 21 de maio de 2016

Cantos Novos - Federico Garcia Lorca



CANTOS NOVOS

Diz a tarde: "Tenho sede de sombra!"
Diz a lua: "eu, sede de luzeiros."
A fonte cristalina pede lábios
e suspira o vento

Eu tenho sede de aromas e de sorrisos,
sede de cantares novos
sem luas e sem lírios,
e sem amores mortos.

Um cantar de manhã que estremeça
os remansos quietos
do porvir. E encha de esperança
suas ondas e seus lodaçais.

Um cantar luminoso e repousado
cheio de pensamentos,
virginal de tristezas e de angústias
e virginal de sonhos.

Cantar sem carne lírica que encha
de risos o silêncio
(um bando de pombas cegas
lançadas ao mistério).

Cantar que vá à alma das coisas
e à alma dos ventos
e que descanse por fim na alegria
do coração eterno.


Federico Garcia Lorca - In Livro de Poemas

sábado, 30 de abril de 2016

Só Tu (Paulo Setúbal) - Poema de Laços de Família

E agora, com a reprise da novela "Laços de Família" (2000 - 2001), de Manoel Carlos, vemos citado novamente, e tantas vezes, o poema que, na minha opinião, fora eternizado por causa do folhetim. 

Camila e Edu apaixonam-se ao som de Balada do Amor Inabalável, do Skank, e envolvidos pelo poema Só Tu, de Paulo Setúbal.


Eu, particularmente, quando escuto este poema, sou levada à minha pré-adolescência e recordo-me de tantas coisas que se passaram e do poema copiado em meu diário. 
Que saudade!

Mas, você sabia que este poema não apareceu recitado e embalando amores pela primeira vez em Laços de Família? Sim, caro leitor! Em outra novela, Manoel Carlos já havia exposto Só Tu. Isso aconteceu em a Sucessora, folhetim das 18h exibido entre os anos de 1978 e 1979, cuja cena retrata o poema escrito pela personagem Luiza a seu amado, e até então impossível amor, Miguel. Confira o poema e a recitação de Luiza a seguir!

Beijos!


                                                                          Laços de Família 

Só Tu 

(Paulo Setúbal)


De todas que me beijaram,

De todas que me abraçaram,

Já não me lembro, nem sei...

São tantas as que me amaram!

São tantas as que eu amei!



Mas tu - que rude contraste!

- Tu, que jamais me beijaste,

Tu, que jamais abracei,

Só tu, nest'alma, ficaste,

De todas as que eu amei.