segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

VENCI MEU PRIMEIRO CONCURSO DE CONTOS

 Olá, queridos leitores!


No dia 22 de Julho do presente ano, inscrevi-me em meu primeiro concurso de contos: o 52° Concurso Nacional de Contos e Poesias Abdala Mameri promovido pela Academia de Letras e Artes de Araguari (ALAA).

Não contei nada para ninguém, uma vez que sou um tanto tímida. 

Qual não foi minha surpresa quando no dia 05 de Novembro recebi o seguinte email:


Fiquei imensamente feliz: Primeiro concurso, Primeiro Prêmio. Estava na escola onde dou aulas. Liguei para minha mãe e mandei mensagem para meus familiares contando a bela novidade. Todos ficaram muito contentes!

Fui à premiação no Club Pica-Pau de Araguari, no último dia 27, onde recebi um certificado e uma promessa de R$1.000,00, prêmio do primeiro lugar. Fui convidada a fazer discurso, que eu já havia preparado anteriormente. 

Foi um belo momento. Logo postarei o meu conto vencedor.

Finalizo dizendo: Acredite em seus sonhos! Eles se realizarão!


Beijos!


Maíra Vanessa

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

EU TE AMO


Eu te amo
Nada mais 
Tenho a declarar
Eu te amo
Assim, amando
Só por amar
Pergunto-me o porquê
Mas não sei a resposta
O que clama meu coração
É que te amo
Puramente
Sem razões lógicas
Sem motivos aparentes
Sem desculpas 
Sem necessidade
Eu te amo
E nada mais
O resto é poesia ao vento

sábado, 20 de novembro de 2021

CONSCIÊNCIA NEGRA


 

O dia de hoje, Dia da Consciência Negra, me faz pensar, dentre tantos temas, sobre meu papel de educadora. Na verdade, tenho pensado sobre isso desde que adentrei o primeiro ciclo do Ensino Fundamental, quando as crianças estão em formação em todos os aspectos da vida: intelectual, social, cidadã etc.

E, em uma aula dessas, falando exatamente sobre Consciência Negra, um aluninho de 7 anos disse: "Eu não tenho preconceito. O 'Alex' é negro e eu sou amigo dele". Ali, eu vi o quanto o "Alex" ficou desconfortável com a afirmativa. Sim: eles são melhores amigos! Contudo, nesse momento, eu presenciei a reprodução do racismo estrutural. Obviamente, pensemos, amigos, uma criança, nesta fase da vida, não é capaz de formar tais opiniões, especialmente, as racistas. Ela tão somente reproduz o que aprende.

O racismo existe! É fato. E a data de hoje deve servir de reflexão para todos, como sociedade, de maneiras de acabar com a segregação racial que se replica em nossas casas, em nossas escolas, em nossos trabalhos, no cotidiano, incessantemente. Não é apenas nos jornais que acontece, com pessoas desconhecidas, o que, por si só, já deveria nos alarmar e nos motivar a fazer algo para mudar essa realidade escancarada; mas, para além disso, o racismo acontece no cotidiano das pessoas que conhecemos, que amamos, todavia, ainda fechamos os olhos.

Pensemos, como sociedade, se estamos sendo reprodutores de racismo. E, como educadores - que todos somos, não apenas os graduados -, o que estamos ensinando às futuras gerações.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Sinto tanto a falta tua

 

Sinto tanto a falta tua

Onde é que estarás agora?

Com quem estarás agora?

Se não estás aqui, comigo?


Será que tens, em algum momento,

No meio de teu dia atribulado,

Sobre mim, um mísero pensamento

Ainda que estejas de mim afastado?


Será que me vês na rua,

Perdida entre a multidão?

Será que sou distração em tua mente 

Quando escutas alguma canção?


Será que me imaginas 

Como a mocinha do teu livro preferido?

Tendo-te como o grande herói 

Ao salvar-me do inimigo?


Será que sou a mulher que sonhas 

Dando-te um beijo apaixonado?

Será que um dia pensaste

Em como seria ter-me ao teu lado?


Será que nunca notaste 

Que mais do que pude dizer eu te queria

Será que nunca pensaste

Que em meu coração só a ti caberia?


Sinto tanto a falta tua

Onde estás que não estás comigo?

Sinto tanto a falta tua...

Infindável saudade!



quinta-feira, 18 de novembro de 2021

ANTROPOFAGIA

 

A rede 

Embaixo da palmeira

O sol acima do céu

Embaixo dele

O mar azul

Tão azul quanto

Os olhos teus


Deus de minha vida

Inventor de minha alma

Dono do meu corpo

De tudo o que é meu

De ti fiz poesia

A mais bela melodia

Que embala os sonhos

E os devaneios meus


Não há vida fora de ti

Fora de ti não há 

Nem mesmo ilusão

Nesta gana de amar-te 

Sem medida

Comeria eu de pronto

Teu coração


Devoro teu corpo

Tua alma, tua vida

Tudo teu

Todo meu


A areia embala os corpos

Na rede já molhada

Da água então salgada

Mistura de suor e mar


A palmeira é a 

Mais sublime testemunha

Do sol, da rede, das ondas

Do amor, do ritmo

Da maresia

Adão e Eva 

Paraíso

Antropofagia!


Maíra Vanessa

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

ADEUS

 

Fui ver-te e não me recebeste

Que queres tu fugindo de mim?

Mandei-te mensagem, não me respondeste

Que fiz eu para tratares-me assim?


A ti dediquei uma canção

A mais bela que jamais escrevi

A ti dediquei meu coração

Mesmo partindo-o tu, não desisti.


E dia e noite, noite e dia

Ofereci-te o meu amor sem nada pedir em troca

Sem desconfiar da covardia

Que teus antigos amores te provocam.


Já não posso mais amar-te

Sem exigir-te os carinhos teus

Se não podes d'alguma forma amar-me

Apenas resta-me dizer-te adeus!


Maíra Vanessa

terça-feira, 16 de novembro de 2021

DOS QUE ME PROCURAM


Dos que me procuram
De todos
És o único que eu queria 
Que me notasse
Falo contigo
Contudo, finges não me ouvir
Quando me respondes
São palavras genéricas...
O que eu queria de ti
Afora tuas respostas
Tão sinceramente educadas
Seria uma confissão
Que me queres
Como quero-te
Que sonhas comigo
Como contigo tenho sonhado
Que me amas
Tão sofregamente
Quanto tenho te amado
Seu amor apenas
Completo, único, fiel
É o que desejo!
Mais nada
Peço à vida.

sábado, 13 de novembro de 2021

O PARDALZINHO - MANUEL BANDEIRA

Olá, amigo leitor!

O poema que trago hoje, é mais um de minha infância, que não precisa de explicação.

Falamos tanto em liberdade, contudo, questiono-me se não tenho estado presa a preconceitos antigos, a padrões pré-definidos, ao conforto de uma falsa estabilidade. 

Deixo para você essa provocação: você tem dado valor à liberdade? O que tem quebrado suas asas e te impedido de voar? Liberte-se!




O PARDALZINHO

Manuel Bandeira

O pardalzinho nasceu
Livre. Quebraram-lhe a asa.
Sacha lhe deu uma casa,
Água, comida e carinhos.
Foram cuidados em vão:
A casa era uma prisão,
O pardalzinho morreu.
O corpo Sacha enterrou
No jardim; a alma, essa voou
Para o céu dos passarinhos!


quinta-feira, 11 de novembro de 2021

EU ODEIO COMEÇOS

Eu odeio começos! 

Começos de filmes, quão enfadonhos são! Aquele começo chato musical, suspense, quem são os personagens? Quais seus nomes? Onde moram? Qual a história? Eu odeio os primeiros 20 ou 30 minutos de filme. Mas, quando começa a entrar na história... Ah! Como eu amo a história que se desenha, que se avizinha, que se desvenda!

Eu odeio começos!
Começos de conversas, quão enfadonhas são! Hoje está tão calor... Mas, diz o jornal que vai chover no fim de semana... Eu nem gosto de chuva, mas está precisando. Como são chatos os começos de conversa, especialmente, com estranhos, em ubers, em filas. Filas já são tão enfadonhas... Início de conversa com estranho em fila então! E, quando a conversa está ficando interessante, que começamos a conversar intimamente sobre uma série ou livro ou término de relacionamento: SENHA BNH382. Até logo, caro novo amigo que, com sorte, nunca mais verei.

Eu odeio começos!
Começos de escritas, quão desmotivantes são! Não tenho a ideia... Tenho a ideia, mas não sei como começar... Tenho o começo, mas não sei a próxima linha... E assim vai até umas três ou quatro tentativas de ideias, de inícios. Até que a história emenda, o poema rima e tudo flui. Sim, gostei do final!

Eu odeio começos!
Começos em trabalhos... nova vida, nova profissão, quão desimpolgantes são! Conheça fulano, este é cicrano, este departamento te ajudará nisso... não é desse jeito e nem desse outro... tente assim... não saia... não entre... não chegue cedo... não chegue tarde... não vá embora... você ainda está aqui? Mas, quando já conhecemos as pessoas e os procedimentos, que satisfação é cumprir nossa missão!

Eu odeio começos!
Começos de canções desconhecidas, quão chatas são! A avidez por conhecer... Como será o refrão? Do que fala a música? Qual a parte mais gostarei? Por isso, prefiro as musicas as quais já conheço os começos de cor, que já são uma extensão da minha vida, da minha alma!

Eu odeio começos! 


Mas, de todos os começos, os que mais odeio são os começos de amores. E quão enfadonhos são! Devo ligar ou não? Posso procurar ou não? Devo dizer isso ou não? Esse assunto é bom para essa fase ou não? Devo contar este segredo ou não? Devo falar do meu ex? NÃO! Dos meus sonhos e projetos? NÃO! Pode assustá-lo! 

Ah! Começos de amores, quão enfadonhos são! Por isso, atrevo-me a pensar, que não há mais espaço em minha vida para novo amor, nem para velho amor, nem para amor nenhum. Minha alma é poética, e escreve para alguém imaginário, que nunca existirá. É bom amar de mentira! Mas, meu cérebro é racional, e ele me domina. E como odeia inícios, decidiu que é melhor viver no conforto e na paz de não amar ninguém. 

E, viva a liberdade de não precisar viver de eternos começos!

Maíra Vanessa

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

VOU A MONTE VERDE


Vou a Monte Verde
Buscar uma prímula 
Para você
Coma o doce
Doce é meu amor
A vida é mel
Pão de mel, chocolate
Doce de leite e licor
A vida é sementeira
Belos montes, paisagens
Frio, chuva, 
Vinho, lareira

Vou a Monte Verde
Buscar nova vida
Para você
Quem sabe não 
Me acompanha?
Quem sabe não
Paga para ver
Que a vida pode
Ser bem mais
Feliz comigo?
Bem mais leve
Leve e doce
Como uma prímula

Vou a Monte Verde
A prímula me espera
A prímula é 
Para você que
Tem gosto de 
Primeiro amor
O amor está guardado
Bem lá no chalé
Aguardando por nós
Ah! Doce Monte Verde!

Maíra Vanessa

terça-feira, 9 de novembro de 2021

FIGURA SÓ - TARSILA DO AMARAL

 


Olá, caros amigos.


Na postagem de hoje, venho trazer uma das pinturas que mais gosto de Tarsila do Amaral: Figura Só.


Tarsila do Amaral (1886-1973).


Antes de adentrar na obra propriamente dita, é necessário ressaltar a grandeza de Tarsila para a arte nacional, mas também para a arte brasileira reconhecida no exterior.

Tarsila do Amaral nasceu em Capivari, em 1886. Veio de família abastada, em virtude de negócios familiares em fazendas no interior de São Paulo. 

Tarsila teve a oportunidade de estudar com grandes nomes das artes na Europa, adentrando, cada vez mais, o universo modernista e suas vanguardas. Teve como principal mestre e referência Fernand Léger.

Sua principal obra é Abaporu (homem que come homem), considerada não apenas sua principal pintura, mas a pintura nacional mais importante, uma vez que representa a brasilidade do povo tupiniquim. Também é o marco inicial do movimento Antropofágico no Brasil. Tal obra integra, atualmente, o Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires (MALBA).

Quanto à obra Figura Só, óleo sobre tela, é datada de 1930, período em que a artista passou por diversas dificuldades pessoais, o que culminou na obra em questão.



Como um quadro do período modernista brasileiro, especificamente em sua primeira fase, Tarsila traz obras cujos contornos, cores e planos modulados conferem movimentação à tela. Nas palavras de Moraes (2014, p.127):



Tarsila realiza uma paisagem mais realista, ao pintar uma figura estática em forma de retrato, oposta a uma vegetação sempre aumentada, engrandecida contra as figuras que pousam com as palmas [...]. Os elementos são bastante sintéticos, mas, não se apegam à celebração de uma nacionalidade de qualquer teor. Trata-se de uma mulher universal.

 

Em 1929, a abastada família de cafeicultores de Tarsila perdeu toda a fortuna, devido à crise financeira internacional ocorrida pela quebra da bolsa de valores de Nova York. Em 1930, Tarsila havia conseguido um emprego como conservadora da Pinacoteca de São Paulo, contudo, com o fim da Era Vargas, a artista perdeu o cargo no mesmo ano. Ainda em 1930, o marido da pintora, Oswald de Andrade, a abandonara por ter-se apaixonado por outra mulher, a escritora e revolucionária Patrícia Galvão (Pagu).

O período conturbado na vida da artista, levou-a a compor a obra Figura Só, tida pela crítica como um autorretrato, que mostra uma mulher em um ambiente árido e noturno, com o cabelo esvoaçante em meio à ventania, de costas, cujo semblante não é visto pelo espectador, mas cujo corpo toma forma de lágrima, demonstrando o estado interior desolado e solitário de Tarsila.

Eu gosto bastante dessa pintura, sendo a minha preferida, pois representa, em seus tons escuros, a tristeza, mas também cores nacionais, como o verde da relva e o azul do céu. 

Os cabelos esvoaçantes, que não findam na obra, remetem ao feminino, já que os cabelos longos, expressam, especialmente, a alma do ser feminino.

Por fim, há a figura central, a mulher, de costas, solitária, que traz toda a tristeza em si, de um momento difícil. Quem nunca passou por isso, por momentos ruins que pareciam infindáveis? Creio que todos já passaram.

Por isso mesmo, também sinto esperança nesta obra, por saber que a solidão é necessária para o aprendizado, que a tristeza é necessária para o amadurecimento, mas que tudo passa e, amanhã, essa figura solitária estará em nova vida, quiçá uma vida completamente feliz.

E você, o que sente com essa pintura? 

É impossível não amar Tarsila do Amaral!


Maira Vanessa


Referência

MORAES, Naymme Tatyane Almeida. A paisagem como um discurso em Tarsila do Amaral: A construção de um diálogo entre o espaço social e pictórico na década de vinte do século XX no Brasil: do Pau Brasil a Antropofagia. 2014, 146 f. Dissertação [Mestrado em História]. Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, da Universidade Federal do Paraná, Curitiba/PR, 2014.


domingo, 7 de novembro de 2021

PELO CEMITÉRIO CAMINHO

 

Pelo cemitério caminho

Pelo vale das sombras da noite

Vagando sozinho taciturno

Açoite do tempo inoportuno

 

Relembro nosso passado

As noites de amor intenso proibido

Mistério, enigma fadado

Segue-se ou não o instinto

 

Se te foste de um jeito tão trágico

Mais trágico do que a própria morte

Em meu peito suspiro dobrado

Lamentando minha má sorte

 

No cemitério perene de amores 

Caminho, vagando, sem rumo

Coração, em saber, dilacerado 

Que há outro em teu corpo de flores


Maira Vanessa

sábado, 6 de novembro de 2021

ILHA DESERTA


Ilha deserta
Verdade secreta
Vida descoberta
Ele desconcerta
Hora Incerta

Olha distante
Mente pensante
Pouco exitante
Gesto instante
Amor relutante

Boca calada
Noite pronunciada
Penumbra exaltada
Ela assustada
Batida controlada

Mar agitado
Algum exilado
Contínuo calado
Abraço apertado
Aconchego inusitado

Solidão
Solidão
Solidão
Solidão
A dois

Maira Vanessa

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

LEMBRA-TE DE MIM


Lembra-te de mim

Como lembro-me de ti

E a vida não será mais solidão


Quero acompanhar-te

Dia e noite em teus pensamentos

Noite e dia estar em teu coração


Quero ser o motriz

Do teu intelecto

Da tua vida toda, a razão


Quero ser no teu caminhar

Toda a trilha do sim

Nunca a trilha do não


Não quero ser

Para tua visão

A moça mais bela que já contemplou


Não quero ser

Para teu tato

O corpo mais aprazível que já tocou


Não quero ser

Para teu paladar

A boca mais sedenta que já beijou


Não quero ser

Para teu olfato

O perfume mais sublime que experimentou


Não quero ser

Nem mesmo a mais bela voz

Que um dia um canto qualquer lhe entoou


Só quero ser 

Na tua vida

O alguém que mais amaste


Que nem por uma noite

Nem por outrem, nem por um sonho

Por nada, abandonaste


E se possível for

Aos céus faço um pedido

Que teu amor (como meu)

Seja, de fato, correspondido


Maira Vanessa


quinta-feira, 4 de novembro de 2021

VOCÊ...


Hoje senti tanta saudade de você
Você não sabe,
Mas penso bastante em você
Algumas vezes com raiva
Outras com todo amor do mundo
O amor sempre vence
E a falta que você me faz...
Não sei lidar com isso
Só queria te dizer
Baixinho
Enquanto você escuta
O pulsar endoidecido do meu coração
Que você é muito mais
Do que sonha ser 
Para mim
Você é a parte que falta
Para completar a felicidade
De uma pessoa
Completamente feliz
Eu!
Você...

Maira Vanessa

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

PARA O AMOR QUE VAI CHEGAR


Amo-te tanto
Que se eu explicasse
Não entenderias
Amo-te tanto
Que o que me pedisses
Se não o tivesse te daria
Amo-te tanto
Que tanto amor
Não cabe em uma vida
Amo-te tanto
Que dói-me o peito
Em larga ferida
Amo-te tanto
Que quanto mais vida doo
Mais tenho vida
Amo-te tanto
Que o medo de desprezares-me
Não me intimida
Amo-te tanto
Que grito mudo
No surdo vazio
Amo-te tanto
Que todo vazio
Parece preenchido
Amo-te tanto
Que já não difiro
Realidade e desvario
Amo-te tanto
Que chego a pensar
Que é possível morrer de amar
Amo-te tanto
Que penso em tempos
Que podes tu amar-me também
Amo-te tanto
Que em minha vida
Não tem mais nada para ninguém
Amo-te tanto
Que se não fosse o amor
Nada de mim teria sido
Amo-te tanto
Que tanto amor
Precisa urgentemente ser vivido
Todavia o amor
Não depende apenas do poeta
Depende da disposição
De quem quiser
Ou não
Fazer-se poesia

Maíra Vanessa

terça-feira, 2 de novembro de 2021

Poema de Sete Faces - Carlos Drummond de Andrade

 Boa noite, leitores.

Como o último dia 31 foi o 119° aniversário de Carlos Drummond de Andrade, trago hoje um poema deste enorme poeta brasileiro, mineiro, de Itabira. 

O poema a seguir, é o primeiro do escritor que tenho lembrança de ter lido quando eu tinha uns 14 anos.

E, hoje, as sensações que tenho a partir do poema são outras, diferentes daquele tempo, em que eu pensava muito sobre o anjo torto.

Tais sensações: sim, pessoas sofrem e sofremos junto; ser solitário tem seus prós e seus contras, mais prós na verdade; ser diferente pode ser uma salvação, ao contrário do que pregam muitos; o álcool pode ser o princípio de muitos belos poemas, ou seu fim.

E você, o que sente com esse poema?

-------

Poema de Sete Faces

(Carlos Drummond de Andrade)


Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

sábado, 30 de outubro de 2021

SHAKESPEARE, JANE AUSTEN E RAZÃO E SENSIBILIDADE


Olá, caro amigo!

No post de hoje, venho falar de três obras que amo: Razão e Sensibilidade de Jane Austen, Soneto 116 de Willian Shakespeare, unidos no filme Razão e Sensibilidade de 1995.

Sem dúvidas, Willian Shakespeare (Inglaterra, 1564 - 1616) é um dos mais influentes artistas, não apenas de sua época, mas de todos os tempos. Seus poemas, por exemplo, foram e continuam sendo muito mencionados em várias obras de diversos gêneros, sejam livros, músicas, filmes, dentre outras. 

Jane Austen (Inglaterra, 1775 - 1841) é conhecida mundialmente por seus romances, cujas personagens femininas são fortes, com independência de pensamento e opinião e, algumas, até mesmo, irônicas. É minha escritora favorita!

Uma de suas obras que mais gosto é Razão e Sensibilidade (Reason and Sensibility), que em suma, narra a história das irmãs Dashwood. A família é formada pela mãe, Mrs. Dashwood, e suas três filhas, Eleonor, Mariane e a pequena Margaret.


Razão e Sensibilidade de Jane Austen (1811). 

3ª Edição da Martin Claret, 2009. 

Tradução de Roberto Leal Ferreira.


Após a morte do patriarca, Mr. Dashwood, as quatro caem na pobreza, uma vez que elas, devido às leis vigentes à época, não têm direito à herança, devido ao fato de a mãe não ter tido um herdeiro do sexo masculino. Então, passam a viver da mísera doação anual advinda do meio-irmão mais velho, filho do primeiro casamento de Mr. Dashwood, John Dashwood.

Tendo de deixar sua casa e sua posição social, e contando com a ajuda do primo da matriarca, Sir John Middleton, a família muda-se para uma pequena casa em Devonshire, Barton Park, onde Mariane, a irmã do meio, conhece John Willoughby.

O que os une, além de uma tempestade e da mocinha machucada no meio planície sendo salva pelo jovem cavalheiro, é um livro de bolso de poemas shakespearianos que o rapaz sempre carrega consigo, e cujo soneto 116 é o preferido de ambos os recém-conhecidos, que o recitam apaixonadamente.

Ressalto que o poema mencionado é característica da adaptação cinematográfica de 1995, que apresento após o soneto 116:


SONETO 116

(William Shakespeare)


De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.

Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.

Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,

Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.


Veja a cena a seguir:
Razão e Sensibilidade, 1995
Direção: Ang Lee
Roteiro: Emma Thompson, Jane Austen

Sem dúvidas, a união de ambos os autores, Willian Shakespeare e Jane Austen, em uma forma de arte inexistente à época de ambos, o cinema, é algo deslumbrante e que apenas enriquece o trabalho dos dois autores.Eu, particularmente, amei o intertexto, uma vez que dá ainda mais emoção ao filme e, claro, nos impulsiona a conhecer mais de ambos escritores.Agora que você já leu o Soneto 116 e viu uma cena do filme Razão e Sensibilidade, sugiro que assista a esta adaptação cinematográfica, apaixone-se pelas irmãs Dashwood e anime-se a ler as obras de Jane Austen.Depois, me conta o que você achou, para trocarmos impressões.
Maíra Vanessa

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

QUANDO VOCÊ QUISER VOLTAR


Quando você
Quiser voltar, volta
Não garanto que 
As portas
Estarão ainda abertas
Mas, você tem 
A chave
Só torça para 
Eu não ter trocado 
A fechadura
Não é todo amor
Que dura
Não é.
Todo amor 
Que dura
Madura
Eu gosto
De voar!

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

A LEGIÃO ESTRANGEIRA (CLARICE LISPECTOR) - BREVE ANÁLISE

 

Antes de ir à análise do referido conto, gostaria de destacar que Clarice Lispector (1920 - 1977), nascida na Ucrânia, mas criada no Brasil, é minha escritora nacional favorita. E tenho muitos motivos para isso. 

Primeiramente, porque ela é uma das autoras que mais tratam do universo feminino com verossimilhança. Clarice sabe o que é ser mulher, não apenas no sentido biológico, mas na alma. Quem tem a feminilidade propícia entende o que falo. Ser mulher não é fácil. Traduzir esse universo, então, é muito complexo. Nem santas, nem demônios, mas pecadoras. Clarice traduziu o universo feminino de forma brilhante, precisa, perfeita. E o que acho mais interessante em toda sua feminilidade e tradução do ser feminino é que Clarice morreu de uma doença exclusivamente feminina: de câncer no ovário. É uma das informações que creio que, enquanto eu tiver memória, eu vou lembrar.

Segundamente, porque, por meio de Clarice, eu conheci e me familiarizei melhor com a disciplina de Teoria Literária, especialmente, sobre tipos de narradores, que você pode encontrar muitos trabalhos acadêmicos analisando esse aspecto nas diversas obras da autora; mas, primordialmente, na questão do discurso indireto livre, que, até antes de estudar Clarice eu não conhecia, e que é um recurso que ela utilizou em todas as suas obras e que eu acho genial; uma forma de trazer o leitor para o âmago dos personagens. Se você quiser saber mais sobre isso, há muitos trabalhos acadêmicos sobre o assunto na internet também.

Em terceiro,- e não querendo me estender mais, - porque Clarice Lispector é a maior inspiração que tenho em escrever narrativas. Eu a considero uma escritora perfeita. Quem não? E, ainda que eu não atinja nunca sua perfeição, pois preciso aprender muito sobre tudo nessa vida, esse é o objetivo: narrar como Clarice. 

Isto posto, vamos à breve análise de "A Legião Estrangeira", que você já deve ter lido.



O conto inicia falando de um pintinho que a família ganhara e que não sabia o que fazer com ele. Narrado em primeira pessoa, a narradora fala que ela, o marido e os filhos ficaram observando o animal sem saber o que fazer com ele, e compara o pinto aos sentimentos que “são água de um instante”. Aborda, então, sobre como a bondade é despertada em cada uma das pessoas presentes no momento:

 

A meu marido, a bondade deixa ríspido e severo, ao que já nos habituamos. Nos meninos que são mais graves, a bondade é um ardor. A mim, a bondade me intimida. (p.97)

 

Esse episódio faz com que a narradora-personagem se recorde de uma outra família que esteve presente em sua vida e que, como ela afirma: “mal os conheci”.  Mas esse “mal os conheci”, não significa que ela não tenha tido contato com aquela família, já que logo ela diz: “Diante do mesmo júri ao qual responderia: mal me conheço”.

Então, ela começa a narrar a história dessa família, em particular da filha do casal vizinho, chamada Ofélia. A família dá nome ao conto, pois, segundo a narradora, eram "trigueiros como hindus", de "olheiras arroxeadas" e "boca fina". Os pais, eram muito arrogantes e não permitiam qualquer tipo de aproximação. A filha, de oito anos, pelo contrário, passava horas na casa da narradora, falando o que ela devia ou não fazer, porque "essa, a boca 'fina, que assemelhava-se a um corte' falava".

Percebemos que há uma antipatia entre a menina e a narradora; que na verdade elas se toleram: a primeira, porque tinha muito a ensinar à outra, e a segunda porque era uma forma de afrontar a mãe da menina.

 

Ofélia, ela dava-me conselhos. Tinha opinião formada a respeito de tudo. Tudo o que eu fazia era um pouco errado na sua opinião. Dizia, ‘na minha opinião’ em tom ressentido, como se eu devesse ter lhe pedido conselhos e, já que não pedia, ela dava. (p.103)

 

Ofélia era um adulto “em forma de criança”.

Um dia, conta a narradora, que trouxe um pinto da feira para os filhos, e que a menina veio visitá-la e, ouvindo o barulho do animal, quis saber do que se tratava:


— É o pinto.

— Pinto? Disse desconfiadíssima.

— Comprei um pinto, respondi resignada.

— Pinto! Repetiu como se eu a tivesse insultado.

— Pinto. (p.106)


Esse episódio é o que caracteriza na Teoria Literária a epifania, que é um fenômeno na qual uma personagem, a partir de algum objeto, ou pessoa, ou animal, passa a ver a vida de outra maneira, olhando para seu interior.

A visão que Ofélia e a narradora têm do pinto é uma epifania para as duas. No caso de Ofélia, porque ela passa a agir como criança. E já não tem mais respostas para tudo, ao contrário, está cheia de dúvidas. Primeiramente, sente inveja da outra que possui aquele pinto: “olhou-me rápida, e era a inveja, você tem tudo, e a censura, porque não somos a mesma e eu terei um pinto, e a cobiça – ela me queria para ela” (p.106). Nesse trecho a narradora coloca sobre a menina todos os sinais da imperfeição, inveja, cobiça, para mostrar à menina, que sabia muito mais de muitas coisas que ela, que também não era Ofélia perfeita. Ofélia era uma criança que, na verdade não sabia nada da vida, mas desejava descobrir.

No caso da narradora, porque ela vê na menina como uma criança e enxerga a si própria como a adulta, já que, até então, os papéis estiveram invertidos. Diante disso, Ofélia passa a conversar com um certo recato, e a narradora a responder-lhe autoritária:

 

Com alguma vergonha notei afinal que estava me vingando. A outra sofria, fingia, olhava para o teto.

— Você pode ir para a cozinha brincar com o pintinho.

— Eu...? perguntou sonsa.

— Mas só se você quiser.

Sei que deveria ter mandado, para não expô-la à humilhação de querer tanto.(...) Mas naquele momento não era por vingança que eu lhe dava o tormento da liberdade. É que aquele passo, também aquele passo ela deveria dar sozinha. (p.108)

 

Então, notamos aí, que a narradora é uma importante mediadora entre a menina e o pinto. O pinto pode ser entendido como uma metáfora para vida. Nesse caso, a menina estaria indo ao encontro de uma vida que ela não tinha, mas percebeu que a vizinha sim. Por isso, o desejo de ser a outra. Ofélia com toda sua sabedoria herdada dos pais, não tinha vida própria, pois vivia, agia e pensava como adulto. E aquela era a hora de voltar-se para si.

Assim, a menina vai brincar com o pinto. Após algum tempo volta e vai embora. A narradora vai até a cozinha e percebe que o animal está morto.

Encerra-se aí o  período da epifania para a menina. Ofélia matou aquela nova vida que lhe foi oferecida e voltou para casa, local onde se centrava, a fonte de sua sabedoria pronta.

A narradora tentou alcançá-la inutilmente, gritando que “às vezes a gente mata por amor, mas juro que um dia a gente esquece, juro! A gente não ama bem (...).” (p.110). Percebemos, então, que a epifania continua tendo efeito na narradora que descobre amar aquela criança, irritante em seus conselhos, em suas colocações inoportunas, mas a amava.

Assim, volta-se para o início do conto onde há “o pinto de hoje”. É mostrado um movimento cíclico: o pinto de ontem e o de hoje, a mesma água é outra, a vida se renovando a cada instante.

Clarice é ou não genial?


Maíra Vanessa


REFERÊNCIA

LISPECTOR, Clarice. A Legião Estrangeira. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.