sábado, 27 de maio de 2017

RESENHA DE “50 TONS DO SR. DARCY” (SPOILER)



Quem ainda não ousou a pelo menos assistir Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice) e 50 Tons de Cinza (Fifty Shades of Grey)? O primeiro, um clássico de Jane Austen, da Literatura Inglesa, tão estudado, lido e relido, passado de mãe para filha, de geração em geração, e que é um dos livros que eu, particularmente, mais gosto. O segundo, de Erika L. James, também britânica, uma explosão entre as jovens contemporâneas, que sonham com um príncipe moderno e convenientemente rico, capaz de promover a descoberta de sua sexualidade em seus níveis mais profanos.

Contando a história da orgulhosa Elizabeth Bennet, no final do século XVIII, quando mocinhas deviam bordar, desenhar, pintar, dançar, aprender línguas modernas, dentre outras prendas, Orgulho e Preconceito retrata a vida campestre de Elizabeth Bennet, uma jovem que tem ideias próprias, opiniões formadas e, por isso mesmo, é a queridinha do papai, aquela, que pode até mesmo recusar um bom casamento. O pai, todavia, sabe que a segunda filha jamais se entregará a um homem que não a mereça, nem mesmo por 10 mil libras anuais. E o Sr. Bennet realmente acredita que não há na face da Terra homem capaz de merecer sua querida Lizzy. Então, entra na vida da moça o ricaço, lindo, porém prepotente, Sr. Darcy, que, ao longo da história provará a Elizabeth que não se pode julgar aos outros sem antes conhecer.

Resuminho bem resumido de uma história cheia de intrigas, ironias e cartas, e muito mais interessante do que esta pobre beletrista faz parecer, passemos aos 50 Tons de Cinza. Eu não tive a oportunidade de ler o romance contemporâneo, mas, como moça interessada que sou, assisti, ainda que relutante, já que eu não sou dada a modismos e a literatura ruim (eu exercitando meu lado Elizabeth Bennet com meus pré-julgamentos), ao filme, que, aliás, veio a agradar-me bastante. Aquele ar de suspense, o contraste entre Anastasia Steele, moça virgem, que apaixona-se por um dominador, além do clima de mistério e romance, são bastante interessantes.

Mas, tenho que ser sincera: não foram as partes eróticas que mais me agradaram, apesar de a maioria das mocinhas preferirem-nas; o que mais me animou foi sim o enredo, cheio de dramas e suspenses, no qual senti-me mergulhar e querer incessantemente conhecer os mistérios do jovem bilionário, e não obstante lindo, com um tanquinho invejável, Christian Grey. Aliás, o ator Jamie Dornan virou meu preferido, depois de Chris Evans (O Capitão América) e Zac Afron (Um Homem de Sorte), todos ridiculamente maravilhosos.

Mas, deixemos de delongas e vamos direto ao que interessa: a paródia grotesca, nada intrigante e desmotivante “50 Tons do Sr. Darcy” da autora pseudônima Emma Thomas. O livro, que não ouso chamar de obra, tenta verter aos personagens de Jane Austen as características morais dos de 50 Tons de Cinza, tudo claro, repleto de caricaturas, do contrário não seria uma paródia.

É claro que misturar um clássico com um drama erótico contemporâneo só poderia dar em uma coisa: merda! Desculpem-me o palavreado, mas não tenho outra descrição para dar, e qualquer verbete que eu tente usar para substituí-lo, culminará em um sinônimo igualmente inapropriado (tal como bosta).

O Sr. Darcy, com traços de Christian Grey, é um pseudo-pervertido sexual, iniciado nas artes do BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo) pela Lady Catherine, na tradução tratada pelo sobrenome “De Bruços”, que faz as vezes de Elena Lincoln. Ela sim é uma sádica sexual, que está sempre a caráter e pronta para dar vazão às perversões sexuais. Seus servos vestem-se igualmente a caráter, de “CUECÃO DE COURO, MANO”! As partes em que a megera aparecem são realmente de perversão, embora nada eróticos, mas muito vulgares.

Aliás, se você procura erotismo, não leia 50 Tons do Sr. Darcy.

A mãe de Elizabeth é a outra pervertida da história. Abro um adendo para explicar que no livro Elizabeth não tem pai, mas padrasto, e, não se sabe por que bulhufas, as meninas herdam o sobrenome dele, Bennet. Será que todos os maridos da Sra. Bennet eram “Bennets”, tal como as mulheres da bíblia, no antigo testamento, que quando perdiam os maridos tinham que casar-se com parentes próximos até terem um herdeiro (do sexo masculino)? Não creio que a autora tenha querido passar esta impressão. Aliás, penso que ela não tenha querido passar impressão alguma!

Mas, voltando à Senhora Bennet, o desejo dela é que as filhas tenham o maior número de relações sexuais possíveis, que estejam sempre prontas a deixarem-se ser bolinadas pelos cavalheiros interessados.

Jane é Jane, Mary é uma mocinha que tem relações com seu professor de piano e acaba por engravidar, Kitty quase não aparece e Lydia continua sendo a desonra da família, mas, desta vez, por tornar-se uma estagiária, com pretensões profissionais assalariadas, com certa propensão à mudança de sexo.

Elizabeth Bennet, tal como a maioria das mocinhas, tem o dever de salvar o anti-herói, neste caso Sr. Darcy, e é totalmente passiva, diferente da personagem de Jane Austen, mas bem estereotipada como Anastasia Steele, só que sem tanta insegurança. E, em função disso, aceita ser escrava sexual do Sr. Darcy. Todavia, não há em nenhum momento relações sexuais entre ambos, tanto que o que a moça mais anseia durante todo o livro é ter um orgasmo, o ela consegue no fim da história, não sendo nada erótico. E, consegue, obviamente, salvar o amado. As cenas de espancamento entre Elizabeth e Darcy nunca a fazem sentir nem dor, nem medo, pelo contrário, trazem a ela a ânsia de sentir alguma coisa, afinal, apanhar com um jornal não dá. Essas partes são até engraçadinhas, mas apenas isso.

O livro é ruim, maçante, cheio de anacronismos propositais, piadas ruins, enfim, uma perda de tempo para quem gostou de ambas as obras parodiadas. Poderia ter sido melhor escrito, ter tido piadas de melhor gosto. O personagem do Sr. Bingley, tratado por Sr. Bingulin, fora simplesmente deplorável, um surfista simplório, nada meigo e sem graça.

Todavia, há uma tentativa de crítica de ambas as obras dentro da paródia, mostrando alguns excessos de 50 Tons de Cinza, tal como, o estereótipo de mocinha (bela, recatada e do lar) e de mocinho (o olhar 43 do Sr. Darcy), o culto ao corpo perfeito (o tanquinho do Sr. Darcy); e caricaturando certos aspectos de Orgulho e Preconceito, como as cartas, as distâncias etc; contudo, tudo feito de modo muito superficial, a não ser o olhar de Sr. Darcy, que sempre está em evidência.

 O que eu achei um pouquinho convincente é que no livro 50 Tons de Cinza, há um trocadilho entre Grey, que é o sobrenome do anti-mocinho e da cor cinza. Já na paródia, o trocadilho está na palavra Shades (Fifty Shades of Mr. Darcy), que pode significar tanto “tons”, quanto “abajures”. No fim da paródia, o Sr. Darcy revela-se não com uma personalidade tão profunda, aliás, é bem superficial, mas como sendo um colecionador inveterado de abajures.

Enfim, por R$10,00 eu o comprei e foram os R$10,00 mais mal gastos de minha vida. Poderia ter comprado uma ampola que Pantene 3 minutos milagrosos, que meu cabelo estaria mais sedoso, e ainda sobraria troco.

De 5 estrelas, dou 1 e ½ a esse livro.

Podem me chamar de mal humorada, eu aguento!

(Maíra Vanessa)