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quinta-feira, 28 de outubro de 2021

A LEGIÃO ESTRANGEIRA (CLARICE LISPECTOR) - BREVE ANÁLISE

 

Antes de ir à análise do referido conto, gostaria de destacar que Clarice Lispector (1920 - 1977), nascida na Ucrânia, mas criada no Brasil, é minha escritora nacional favorita. E tenho muitos motivos para isso. 

Primeiramente, porque ela é uma das autoras que mais tratam do universo feminino com verossimilhança. Clarice sabe o que é ser mulher, não apenas no sentido biológico, mas na alma. Quem tem a feminilidade propícia entende o que falo. Ser mulher não é fácil. Traduzir esse universo, então, é muito complexo. Nem santas, nem demônios, mas pecadoras. Clarice traduziu o universo feminino de forma brilhante, precisa, perfeita. E o que acho mais interessante em toda sua feminilidade e tradução do ser feminino é que Clarice morreu de uma doença exclusivamente feminina: de câncer no ovário. É uma das informações que creio que, enquanto eu tiver memória, eu vou lembrar.

Segundamente, porque, por meio de Clarice, eu conheci e me familiarizei melhor com a disciplina de Teoria Literária, especialmente, sobre tipos de narradores, que você pode encontrar muitos trabalhos acadêmicos analisando esse aspecto nas diversas obras da autora; mas, primordialmente, na questão do discurso indireto livre, que, até antes de estudar Clarice eu não conhecia, e que é um recurso que ela utilizou em todas as suas obras e que eu acho genial; uma forma de trazer o leitor para o âmago dos personagens. Se você quiser saber mais sobre isso, há muitos trabalhos acadêmicos sobre o assunto na internet também.

Em terceiro,- e não querendo me estender mais, - porque Clarice Lispector é a maior inspiração que tenho em escrever narrativas. Eu a considero uma escritora perfeita. Quem não? E, ainda que eu não atinja nunca sua perfeição, pois preciso aprender muito sobre tudo nessa vida, esse é o objetivo: narrar como Clarice. 

Isto posto, vamos à breve análise de "A Legião Estrangeira", que você já deve ter lido.



O conto inicia falando de um pintinho que a família ganhara e que não sabia o que fazer com ele. Narrado em primeira pessoa, a narradora fala que ela, o marido e os filhos ficaram observando o animal sem saber o que fazer com ele, e compara o pinto aos sentimentos que “são água de um instante”. Aborda, então, sobre como a bondade é despertada em cada uma das pessoas presentes no momento:

 

A meu marido, a bondade deixa ríspido e severo, ao que já nos habituamos. Nos meninos que são mais graves, a bondade é um ardor. A mim, a bondade me intimida. (p.97)

 

Esse episódio faz com que a narradora-personagem se recorde de uma outra família que esteve presente em sua vida e que, como ela afirma: “mal os conheci”.  Mas esse “mal os conheci”, não significa que ela não tenha tido contato com aquela família, já que logo ela diz: “Diante do mesmo júri ao qual responderia: mal me conheço”.

Então, ela começa a narrar a história dessa família, em particular da filha do casal vizinho, chamada Ofélia. A família dá nome ao conto, pois, segundo a narradora, eram "trigueiros como hindus", de "olheiras arroxeadas" e "boca fina". Os pais, eram muito arrogantes e não permitiam qualquer tipo de aproximação. A filha, de oito anos, pelo contrário, passava horas na casa da narradora, falando o que ela devia ou não fazer, porque "essa, a boca 'fina, que assemelhava-se a um corte' falava".

Percebemos que há uma antipatia entre a menina e a narradora; que na verdade elas se toleram: a primeira, porque tinha muito a ensinar à outra, e a segunda porque era uma forma de afrontar a mãe da menina.

 

Ofélia, ela dava-me conselhos. Tinha opinião formada a respeito de tudo. Tudo o que eu fazia era um pouco errado na sua opinião. Dizia, ‘na minha opinião’ em tom ressentido, como se eu devesse ter lhe pedido conselhos e, já que não pedia, ela dava. (p.103)

 

Ofélia era um adulto “em forma de criança”.

Um dia, conta a narradora, que trouxe um pinto da feira para os filhos, e que a menina veio visitá-la e, ouvindo o barulho do animal, quis saber do que se tratava:


— É o pinto.

— Pinto? Disse desconfiadíssima.

— Comprei um pinto, respondi resignada.

— Pinto! Repetiu como se eu a tivesse insultado.

— Pinto. (p.106)


Esse episódio é o que caracteriza na Teoria Literária a epifania, que é um fenômeno na qual uma personagem, a partir de algum objeto, ou pessoa, ou animal, passa a ver a vida de outra maneira, olhando para seu interior.

A visão que Ofélia e a narradora têm do pinto é uma epifania para as duas. No caso de Ofélia, porque ela passa a agir como criança. E já não tem mais respostas para tudo, ao contrário, está cheia de dúvidas. Primeiramente, sente inveja da outra que possui aquele pinto: “olhou-me rápida, e era a inveja, você tem tudo, e a censura, porque não somos a mesma e eu terei um pinto, e a cobiça – ela me queria para ela” (p.106). Nesse trecho a narradora coloca sobre a menina todos os sinais da imperfeição, inveja, cobiça, para mostrar à menina, que sabia muito mais de muitas coisas que ela, que também não era Ofélia perfeita. Ofélia era uma criança que, na verdade não sabia nada da vida, mas desejava descobrir.

No caso da narradora, porque ela vê na menina como uma criança e enxerga a si própria como a adulta, já que, até então, os papéis estiveram invertidos. Diante disso, Ofélia passa a conversar com um certo recato, e a narradora a responder-lhe autoritária:

 

Com alguma vergonha notei afinal que estava me vingando. A outra sofria, fingia, olhava para o teto.

— Você pode ir para a cozinha brincar com o pintinho.

— Eu...? perguntou sonsa.

— Mas só se você quiser.

Sei que deveria ter mandado, para não expô-la à humilhação de querer tanto.(...) Mas naquele momento não era por vingança que eu lhe dava o tormento da liberdade. É que aquele passo, também aquele passo ela deveria dar sozinha. (p.108)

 

Então, notamos aí, que a narradora é uma importante mediadora entre a menina e o pinto. O pinto pode ser entendido como uma metáfora para vida. Nesse caso, a menina estaria indo ao encontro de uma vida que ela não tinha, mas percebeu que a vizinha sim. Por isso, o desejo de ser a outra. Ofélia com toda sua sabedoria herdada dos pais, não tinha vida própria, pois vivia, agia e pensava como adulto. E aquela era a hora de voltar-se para si.

Assim, a menina vai brincar com o pinto. Após algum tempo volta e vai embora. A narradora vai até a cozinha e percebe que o animal está morto.

Encerra-se aí o  período da epifania para a menina. Ofélia matou aquela nova vida que lhe foi oferecida e voltou para casa, local onde se centrava, a fonte de sua sabedoria pronta.

A narradora tentou alcançá-la inutilmente, gritando que “às vezes a gente mata por amor, mas juro que um dia a gente esquece, juro! A gente não ama bem (...).” (p.110). Percebemos, então, que a epifania continua tendo efeito na narradora que descobre amar aquela criança, irritante em seus conselhos, em suas colocações inoportunas, mas a amava.

Assim, volta-se para o início do conto onde há “o pinto de hoje”. É mostrado um movimento cíclico: o pinto de ontem e o de hoje, a mesma água é outra, a vida se renovando a cada instante.

Clarice é ou não genial?


Maíra Vanessa


REFERÊNCIA

LISPECTOR, Clarice. A Legião Estrangeira. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

sábado, 27 de maio de 2017

RESENHA DE “50 TONS DO SR. DARCY” (SPOILER)



Quem ainda não ousou a pelo menos assistir Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice) e 50 Tons de Cinza (Fifty Shades of Grey)? O primeiro, um clássico de Jane Austen, da Literatura Inglesa, tão estudado, lido e relido, passado de mãe para filha, de geração em geração, e que é um dos livros que eu, particularmente, mais gosto. O segundo, de Erika L. James, também britânica, uma explosão entre as jovens contemporâneas, que sonham com um príncipe moderno e convenientemente rico, capaz de promover a descoberta de sua sexualidade em seus níveis mais profanos.

Contando a história da orgulhosa Elizabeth Bennet, no final do século XVIII, quando mocinhas deviam bordar, desenhar, pintar, dançar, aprender línguas modernas, dentre outras prendas, Orgulho e Preconceito retrata a vida campestre de Elizabeth Bennet, uma jovem que tem ideias próprias, opiniões formadas e, por isso mesmo, é a queridinha do papai, aquela, que pode até mesmo recusar um bom casamento. O pai, todavia, sabe que a segunda filha jamais se entregará a um homem que não a mereça, nem mesmo por 10 mil libras anuais. E o Sr. Bennet realmente acredita que não há na face da Terra homem capaz de merecer sua querida Lizzy. Então, entra na vida da moça o ricaço, lindo, porém prepotente, Sr. Darcy, que, ao longo da história provará a Elizabeth que não se pode julgar aos outros sem antes conhecer.

Resuminho bem resumido de uma história cheia de intrigas, ironias e cartas, e muito mais interessante do que esta pobre beletrista faz parecer, passemos aos 50 Tons de Cinza. Eu não tive a oportunidade de ler o romance contemporâneo, mas, como moça interessada que sou, assisti, ainda que relutante, já que eu não sou dada a modismos e a literatura ruim (eu exercitando meu lado Elizabeth Bennet com meus pré-julgamentos), ao filme, que, aliás, veio a agradar-me bastante. Aquele ar de suspense, o contraste entre Anastasia Steele, moça virgem, que apaixona-se por um dominador, além do clima de mistério e romance, são bastante interessantes.

Mas, tenho que ser sincera: não foram as partes eróticas que mais me agradaram, apesar de a maioria das mocinhas preferirem-nas; o que mais me animou foi sim o enredo, cheio de dramas e suspenses, no qual senti-me mergulhar e querer incessantemente conhecer os mistérios do jovem bilionário, e não obstante lindo, com um tanquinho invejável, Christian Grey. Aliás, o ator Jamie Dornan virou meu preferido, depois de Chris Evans (O Capitão América) e Zac Afron (Um Homem de Sorte), todos ridiculamente maravilhosos.

Mas, deixemos de delongas e vamos direto ao que interessa: a paródia grotesca, nada intrigante e desmotivante “50 Tons do Sr. Darcy” da autora pseudônima Emma Thomas. O livro, que não ouso chamar de obra, tenta verter aos personagens de Jane Austen as características morais dos de 50 Tons de Cinza, tudo claro, repleto de caricaturas, do contrário não seria uma paródia.

É claro que misturar um clássico com um drama erótico contemporâneo só poderia dar em uma coisa: merda! Desculpem-me o palavreado, mas não tenho outra descrição para dar, e qualquer verbete que eu tente usar para substituí-lo, culminará em um sinônimo igualmente inapropriado (tal como bosta).

O Sr. Darcy, com traços de Christian Grey, é um pseudo-pervertido sexual, iniciado nas artes do BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo) pela Lady Catherine, na tradução tratada pelo sobrenome “De Bruços”, que faz as vezes de Elena Lincoln. Ela sim é uma sádica sexual, que está sempre a caráter e pronta para dar vazão às perversões sexuais. Seus servos vestem-se igualmente a caráter, de “CUECÃO DE COURO, MANO”! As partes em que a megera aparecem são realmente de perversão, embora nada eróticos, mas muito vulgares.

Aliás, se você procura erotismo, não leia 50 Tons do Sr. Darcy.

A mãe de Elizabeth é a outra pervertida da história. Abro um adendo para explicar que no livro Elizabeth não tem pai, mas padrasto, e, não se sabe por que bulhufas, as meninas herdam o sobrenome dele, Bennet. Será que todos os maridos da Sra. Bennet eram “Bennets”, tal como as mulheres da bíblia, no antigo testamento, que quando perdiam os maridos tinham que casar-se com parentes próximos até terem um herdeiro (do sexo masculino)? Não creio que a autora tenha querido passar esta impressão. Aliás, penso que ela não tenha querido passar impressão alguma!

Mas, voltando à Senhora Bennet, o desejo dela é que as filhas tenham o maior número de relações sexuais possíveis, que estejam sempre prontas a deixarem-se ser bolinadas pelos cavalheiros interessados.

Jane é Jane, Mary é uma mocinha que tem relações com seu professor de piano e acaba por engravidar, Kitty quase não aparece e Lydia continua sendo a desonra da família, mas, desta vez, por tornar-se uma estagiária, com pretensões profissionais assalariadas, com certa propensão à mudança de sexo.

Elizabeth Bennet, tal como a maioria das mocinhas, tem o dever de salvar o anti-herói, neste caso Sr. Darcy, e é totalmente passiva, diferente da personagem de Jane Austen, mas bem estereotipada como Anastasia Steele, só que sem tanta insegurança. E, em função disso, aceita ser escrava sexual do Sr. Darcy. Todavia, não há em nenhum momento relações sexuais entre ambos, tanto que o que a moça mais anseia durante todo o livro é ter um orgasmo, o ela consegue no fim da história, não sendo nada erótico. E, consegue, obviamente, salvar o amado. As cenas de espancamento entre Elizabeth e Darcy nunca a fazem sentir nem dor, nem medo, pelo contrário, trazem a ela a ânsia de sentir alguma coisa, afinal, apanhar com um jornal não dá. Essas partes são até engraçadinhas, mas apenas isso.

O livro é ruim, maçante, cheio de anacronismos propositais, piadas ruins, enfim, uma perda de tempo para quem gostou de ambas as obras parodiadas. Poderia ter sido melhor escrito, ter tido piadas de melhor gosto. O personagem do Sr. Bingley, tratado por Sr. Bingulin, fora simplesmente deplorável, um surfista simplório, nada meigo e sem graça.

Todavia, há uma tentativa de crítica de ambas as obras dentro da paródia, mostrando alguns excessos de 50 Tons de Cinza, tal como, o estereótipo de mocinha (bela, recatada e do lar) e de mocinho (o olhar 43 do Sr. Darcy), o culto ao corpo perfeito (o tanquinho do Sr. Darcy); e caricaturando certos aspectos de Orgulho e Preconceito, como as cartas, as distâncias etc; contudo, tudo feito de modo muito superficial, a não ser o olhar de Sr. Darcy, que sempre está em evidência.

 O que eu achei um pouquinho convincente é que no livro 50 Tons de Cinza, há um trocadilho entre Grey, que é o sobrenome do anti-mocinho e da cor cinza. Já na paródia, o trocadilho está na palavra Shades (Fifty Shades of Mr. Darcy), que pode significar tanto “tons”, quanto “abajures”. No fim da paródia, o Sr. Darcy revela-se não com uma personalidade tão profunda, aliás, é bem superficial, mas como sendo um colecionador inveterado de abajures.

Enfim, por R$10,00 eu o comprei e foram os R$10,00 mais mal gastos de minha vida. Poderia ter comprado uma ampola que Pantene 3 minutos milagrosos, que meu cabelo estaria mais sedoso, e ainda sobraria troco.

De 5 estrelas, dou 1 e ½ a esse livro.

Podem me chamar de mal humorada, eu aguento!

(Maíra Vanessa)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Orgulho e Preconceito, Emma, Jane Eyre e uma certa inspiração vinda de um livro ganhado

     Gente! Quanto tempo sem atualizar este blog. Sabe quando dá aquele apagão, que não sabemos o que escrever ou o que postar? Pois é. Ainda bem que acabou-se. 
     Primeiramente, quero desejar Feliz Ano Novo e que seja para nós um ano bem bacana e marcante positivamente.
    Bem, então vamos ao que interessa! A pergunta é: como recuperei a inspiração artística, o fio literário, como soube sobre o que escrever? 
      Simples: ganhei um livro! :D
     Bem, na verdade, ganhei um livro em uma promoção do Skoob no Instagram, em comemoração ao aniversário de 6 anos da rede social. Parabéns, Skoob!!!
    O desafio era fotografar "o seu amor por um personagem". Como amo os livros da Jane Austen e da  Charlotte Brontë, juntei-os com minhas Damas de Época, coleção da Planeta de Agostini, referentes a eles e compus a foto a seguir.


Em sequência: Elizabeth Bennet, Emma e Jane Eyre.
Fonte: Maíra Vanessa,2015. 
Para reproduzir esta imagem, deve-se pedir permissão ao autor.

     O livro que escolhi para receber como prêmio, da editora Rocco, foi "A Guardiã dos Segredos do Amor", de Kate Morton, e, quando eu o ler, farei a resenha. Escolhi este livro, pois é um romance de época e tem tudo a ver com minha fotografia.
    Bem, inspirada pela imagem anterior, deixo como dicas de leitura os livros que amo, de personagens pelas quais sou apaixonada e que superrecomendo.
     Orgulho e Preconceito, Jane Austen, é a história de uma família com cinco filhas, cujo objetivo primordial da mãe é casá-las, para que, caso o pai das moças venha a óbito, as meninas não fiquem com uma mão na frente e outra atrás. Enquanto a preocupação da mãe é apenas casá-las e casá-las bem, a segunda filha da família Bennet, deseja muito mais que unir-se em matrimônio a um rapaz de família abastada, mas encontrar o homem certo. Odiando o arrogante Mr. Darcy e caindo nos encantos do oficial raso Mr. Wickham, Lizz Bennet, tem muito a descobrir sobre os outros e sobre si mesma. Mais do que apenas um romance, Orgulho e Preconceito retrata a sociedade de Londres do século XVIII, mostrando como dava-se a questão da propriedade, como era o trato de homens e mulheres e como as aparências sempre estiveram acima do caráter. 

Fonte: Maíra Vanessa, 2015.
AUSTEN, Jane. Orgulho e Preconceito. Matin Claret, 2006.

       Emma, o romance mais conhecido de Jane Austen, conta a história da rica moça que dá nome ao livro. Emma Woodhouse, ajuda às pessoas mais necessitadas, é  a filha mais nova e, por ser a irmã mais velha casada, é ela quem cuida do pai. Emma não tem grandes planos para casamento e, uma das caridades que ela acha que faz é alcovitar romances. Numa dessas, tentando unir sua amiga desafortunada Harriet Smit ao  pároco Mr. Elton, dá-se muito mal, visto que o rapaz em questão não estava apaixonado por Harriet e sim por Emma. Ferindo os sentimentos da amiga, anteriormente apaixonada por um rapaz de família simples, Mr. Martin, que havia claramente mostrado interesse por Harriet, Emma descobrirá como esconde os preconceitos por baixo das obras de caridade e que seu grande amor está mais perto do que ela imagina. 

Fonte: Maíra Vanessa, 2015.
AUSTEN, Jane. Emma. Tradução: Ivo Barroso [Edição Especial]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: 2011. (Saraiva de bolso).

        Jane Eyre, de Charlotte Brontë conta a história de uma menina que perde os pais prematuramente e fica vivendo com a tia que a odeia, enquanto os primos a maltratam. Como a tia não aguenta nem olhar para as fuças da garota, manda-a para um internato religioso, no qual, de início, a menina sofre duras penas. Ao tornar-se moça, Jane decide deixar o internato e ir em busca de novos ares. Consegue emprego como tutora de Adèle, uma garotinha francesa adota pelo sempre ausente Mr. Edward Rochester. Após tanto sofrer, Miss Eyre descobre como amar e, principalmente, ser amada é bom. Contudo, seu romance é proibido e a moça tem de, mais uma vez, recomeçar. Todavia, nem tudo está perdido.

Fonte: Maíra Vanessa, 2015.
BRONTË, Charlotte. Jane Eyre. Tradução e prefácio de Heloísa Seixas. Rio de Janeiro: BestBolso, 2011.

      Baseadas nos romances citados têm-se ainda adaptações cinematográficas homônimas, que são igualmente encantadoras.
          Desta forma, deixo aqui minhas recomendações de leitura, que não precisariam de explicações nem introdução, visto que são grandes clássicos.



Maíra Vanessa

Referências

Meu perfil no instagram: http://instagram.com/m.vanessa88/
Skoob: www.skoob.com.br
Perfil Skoob Instagram: http://instagram.com/skoobnews/
Editora Rocco: www.rocco.com.br
Editora Rocco no Instagram: http://instagram.com/editorarocco/

terça-feira, 4 de novembro de 2014

A Critica Social em João Cabral de Melo Neto - Breves aspectos em "Morte e Vida Severina", "O Cão sem Plumas" e "O Rio"



Uma das funções dos textos de João Cabral de Melo Neto é a crítica social, que se faz presente em Morte e vida severina, O cão sem plumas e O Rio.  Nos três, percebemos que a crítica é voltada para a mesma sociedade, já que os problemas ressaltados são os mesmos: a miséria social e os aspectos que ela engloba.
Em Morte e vida severina, percebemos que a miséria faz com que Severino procure melhores condições de vida, longe da seca, da fome, da exclusão, da morte. No caminho para Recife, só encontra morte. E, na cidade grande, percebe que não importa aonde vá, o problema está em todos os lugares.


__Mas o que se vê não é isso:
É sempre nosso serviço
Crescendo mais cada dia;
Morre gente que nem vivia.
__E esse povo lá da riba
De Pernambuco, da Paraíba,
Que vem buscar no recife
Poder morrer de velhice,
Encontra só, aqui chegando
Cemitérios esperando.
__Não é viagem o que fazem,
Vindo por essas caatingas,vargens;
Aí está o seu erro:
Vêm é seguindo seu próprio enterro.
 (p. 191)


Severino, então, decide suicidar. Porém, encontra Seu José, mestre carpina, que vai lhe mostrar que a vida é mais importante.

__Severino, retirante,
Não sei bem o que lhe diga:
Não é que eu espere comprar
Em grosso de tais partidas,
Mas o que compro a retalho
É, de qualquer forma, vida.
(p.195)



Em O cão sem plumas, notamos que o rio Capibaribe, que corta a cidade de Recife em dois extremos, de um lado ricos, e de outro, pobres, vai ser comparado às pessoas sem recursos financeiros. É o que constatamos, como nos trechos seguintes:


Aquele rio
Jamais se abre aos peixes,
Ao brilho,
À inquietação de faca,
Que há nos peixes,
Jamais se abre em peixes.

Abre-se em flores
Pobres e negras
Como os negros;
Abre-se numa flora suja e mendiga
Como são os mendigos negros.
Abre-se em mangues
De folhas duras e crespos
Como um mendigo.
(p. 105-106)


Nestes trechos, observamos que o rio é poluído, como as pessoas daquela região. Poluídas no sentido de sujas, marcadas, desprezadas. Que esse rio não se abre aos peixes, porque peixe simboliza abundância e felicidade. Não se abre em brilho, porque vive na escuridão, assim como aqueles habitantes.
Vemos, então, mais uma vez a miséria social, tratada pelo autor.



Em O rio, a crítica é a mesma. Todavia, a população já não habita ao redor do rio, e sim dentro dele. As casas são perpassadas por ele e por isso ele é “seu companheiro mais íntimo”. O eu-lírico do poema é o próprio rio, que fala de si e de suas experiências com aquela população, que se torna parte dele.

A não ser esta cidade
Que vim encontrar sob o Recife;
Sua metade podre
Que com lama podre se edifica.

(...)

Conheço toda essa gente
que deságua nestes alagados.
Não estão no nível do cais,
Vivem no nível da lama e do pântano.


É gente que, como em Morte e vida severina, não tem identidade. Que, por não ter onde viver, precisa construir sua casa dentro do rio. Gente, cuja miséria é total. É uma população que quer mudar de vida, mas não vê solução, pois, como vemos em Morte e vida severina, existem os que tem, que são os latifundiários, e os que não tem, que é a maioria da população, cuja parte que lhe cabe do latifúndio, é uma pedaço de chão para ser enterrado.


Gente que sempre me olha
Como se, de tanto olhar,
Eu pudesse o milagre
De, um dia ainda por chegar,
Levar todos comigo,
Retirantes para o mar.


            Todavia, apesar de tanto sofrimento, nas três obras, o escritor mostra uma esperança, ainda mínima, de que a situação tratada, possa ser revertida, como vimos no trecho anterior, e como vemos nos seguintes:

E não há melhor resposta
Que o espetáculo da vida:
Vê-la desafiar seu fio,
Que também se chama vida,
Ver a fábrica que ela mesma,
Teimosamente, se fabrica,
Vê-la brotar como a pouco
Em nova vida explodida;
Mesmo quando é assim pequena
A explosão, como a ocorrida;
Mesmo quando é uma explosão
Como a de há pouco, franzina;
Mesmo quando é a explosão
De uma vida severina.
(Morte e vida severina, p.202)

Porque é muito mais espessa
A vida que se desdobra
Em mais vida,
Como uma fruta
É mais espessa
Que sua flor;
Como a árvore
É mais espessa
Que sua semente;
Como a flor
É mais espessa
Que sua árvore,
Etc. etc.

Espesso,
Porque é mais espessa
A vida que se luta
Cada dia,
O dia que se adquire
Cada dia
(como uma ave
Que vai cada segundo
Conquistando seu vôo).
(O cão sem plumas, p.116)

Outro elemento recorrente nas três obras é o rio Capibaribe, que corta a cidade do Recife.  O rio, na primeira obra é o guia de Severino, que sai da Paraíba para o Recife e se guia por esse rio. Porém, como ele está se mudando no verão, o rio seca. Então, temos aí um rio seco, símbolo de viagem cansativa, desnorteada e com muitas mortes pelo caminho, uma vez que água simboliza a vida.
Na segunda obra, o rio é comparado às pessoas daquela região, que, como dito anteriormente, são poluídas, negras, sem brilho. A história do rio se confunde com a história do povo e vice-versa.
Na terceira obra, o rio conta a história da população, que vive dentro dele e que faz parte dele.
Nos três percebemos que o rio possui um nome, que é Capibaribe, mas a população não tem identidade, não tem nome, não tem vez. O rio mescla-se às pessoas, faz parte de suas histórias e é elemento indispensável nas obras citadas.

Assim, podemos concluir que as obras aqui tratadas fazem crítica à miséria de uma população que nasce para morrer, mas que sempre tem a esperança de mudar seu destino. Notamos, assim, a genialidade deste escritor, João Cabral de Melo Nelo, que de uma realidade feia fez poesia.

Por: Maíra Vanessa Nunes