terça-feira, 2 de novembro de 2021

Poema de Sete Faces - Carlos Drummond de Andrade

 Boa noite, leitores.

Como o último dia 31 foi o 119° aniversário de Carlos Drummond de Andrade, trago hoje um poema deste enorme poeta brasileiro, mineiro, de Itabira. 

O poema a seguir, é o primeiro do escritor que tenho lembrança de ter lido quando eu tinha uns 14 anos.

E, hoje, as sensações que tenho a partir do poema são outras, diferentes daquele tempo, em que eu pensava muito sobre o anjo torto.

Tais sensações: sim, pessoas sofrem e sofremos junto; ser solitário tem seus prós e seus contras, mais prós na verdade; ser diferente pode ser uma salvação, ao contrário do que pregam muitos; o álcool pode ser o princípio de muitos belos poemas, ou seu fim.

E você, o que sente com esse poema?

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Poema de Sete Faces

(Carlos Drummond de Andrade)


Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

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