Tem
dias que não estamos bem. Tem dias que acordamos para fazer e dizer besteiras,
para magoar e ser magoados. E hoje foi um dia desses para mim, infelizmente.
Então sentei-me e, como sempre, tentei escrever algo. Raramente eu escrevo
sobre mim, embora no que escreva tenha muito de mim. E foi isso o que
escrevi... Não é para agradar, mas, como certeza, foi bastante aliviador e
inspirador para mim. Falo de fatos e de
pensamentos que têm me norteado. J
Às
vezes procuramos inspiração, mas não a encontramos. Na maioria das vezes a
inspiração nos encontra. Não estou falando apenas de inspiração para poemas,
música, desenhos, fotografia, para um novo romance. Não! Estou falando de
inspiração para a vida!
Quando
paramos para pensar sabemo-nos repletos de dons. Eu particularmente possuo o
dom da escrita, de aprender e ensinar, possuo o dom de compreender e
criticar obras literárias. Possuo ainda o dom da oratória (ou possuía) e o dom da
dança e da atuação (a algum tempo abandonados). E o, recentemente descoberto, dom para
culinária. Contudo, não possuo dom para escrever um romance extenso ou uma peça
teatral. Não possuo o dom do canto e muito menos para tocar algum instrumento.
Todavia, estou eu a fazer aulas de violão e de canto.
Dons necessitam ser desenvolvidos ou perdem-se,
como perdi o dom da dança e pretendo recuperá-lo. Alguns dons ficam por um tempo e depois já não
fazem parte mais de quem somos, como o meu dom para a atuação. Alguns dons
estão tão arraigados a nós que nem se quiséssemos poderíamos dissipá-los, como
é o meu caso da escrita.
Todavia,
todos temos dons em comum. O dom do amor, o dom da amizade, o dom do perdão. E
como tal, tais dons necessitam ser desenvolvidos, trabalhados minunciosamente e
com tamanho empenho, até que passem a fluir naturalmente em nossas veias, fazendo
integralmente parte do que somos. Ora, se o dom do amor não é desenvolvido,
como terei eu compaixão e serei caridosa? Há pessoas que preferem cultivar o
desânimo e o pessimismo. Temos o livre-arbítrio.
Algumas
pessoas estão mais propícias a ver a beleza da vida do que outras. Ainda não
descobri em qual grupo encontro-me. Um dia pensei bastante sobre isso e cheguei
à conclusão de que meu amor pela vida não é tão grande. Não digo pela vida
humana. Digo por minha própria vida. Mas, meu medo da morte é enorme. Tudo que
inspira morte me aterroriza. E, olhe só, a morte também é um dom! Não só a
morte física, mas a morte que tocamos todos os dias. Somos frágeis e estamos em
constante mutação. Nada, nenhuma situação nos é definitiva. O que nos era fascínio
ontem, já não nos é hoje. Nossas opiniões mudam e ainda bem que mudamos! Se não
amo tanto a minha vida, mas tenho tanto medo de perdê-la, então, que eu seja
forte e corajosa para enfrentar os percalços que me cercam.
E
quantos percalços encontramos! Parece que a todo instante caminhamos por
estradas esburacadas e sempre estamos a entrar em um buraco diferente. Às vezes
o buraco é tão fundo que não sabemos como sair dele. Outras vezes, quando nos
damos conta, já não é mais um buraco, e sim um poço. É o fim do poço! Desespero,
angústia, solidão, não saber o que fazer, falta de inspiração. É aí que
encontramos as respostas que estivemos procurando desde sempre. É aí que
descobrimos quais os caminhos a trilhar e o que nos tem feito chegar ao lugar
em que chegamos.
E
aí nos perguntamos: até quando? E (re)encontramos a inspiração da vida, (re)encontramos
nossos dons e (re)desenhamos nosso destino. Temos planos, projetos a serem realizados.
Deus nos manda pessoas para ajudar, alguém que diz: “Você é tão boa nisso... Já
pensou em fazer tal curso?” Ou você encontra um antigo colega de faculdade que
te diz: “Estão precisando de alguém para trabalhar neste lugar e eu te
indiquei.” Ou então, alguém muito especial abre sua janela no Facebook e diz: “Jesus
mandou dizer: Alegra-te e saibas que pelo poder da Minha palavra realizarei maravilhas
em você.” Ou então, um amigo
te liga naquela madrugada em que você chorou tanto e esteve tão infeliz, e fica
quase duas horas falando contigo, tentando te animar (e olhe que esse amigo nem
gosta de falar ao telefone). E você pensa: “Um amigo assim é presente de Deus”.
E o que era escuridão, torna-se em luz. O que era desespero torna-se esperança
e o antigo fica para trás. Tal qual a Fênix renascemos de nossas cinzas para um
recomeço. E, sim, eu tenho uma inspiração de vida!
Então, malas são desfeitas, amizades refeitas, laços
estreitados, sorrisos abertos, a felicidade começa a ser trilhada e nós nos tornamos
cada vez mais parte do grande dom inspirador que é a vida.
Maíra Vanessa
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